ABRIL DE 1974 - Memória dos anos setenta:
OS ÚLTIMOS DIAS







"Quase todos desconheciam, tudo das fábricas e dos campos, não sabiam nem as casas, nem as horas, nem os gestos dos operários e camponeses em nome dos quais falavam, esquecendo-se abundantemente de que era em nome deles que falavam.

Tinham lido pouco. Gente que citasse como tu Fernando Pessoa ou que imaginasse frases a partir de Sá-Carneiro havia muito pouca, não tanto por repúdio duma cultura que talvez chamassem por vezes burguesa, mas por uma grande falta de hábito e uma grande inércia.

Liam pouco dos clássicos e dos teóricos - também pouca gente tinha as obras de Marx e de Lénine que circulavam secretamente, de pasta em pasta, e de quarto em quarto - e sabiam mais frases que resumiam grandes ideias do que o raciocínio completo.

Por isso, aqueles que liam com cuidado, sublinhando os livros com lápis azul ou vermelho grosso e gorduroso, ou fazendo fichas por temas, eram escutados, das palavras deles saindo a ciência de quase todos, as certezas, os padrões e as referências."

[ DIONÍSIO, Eduarda - Retrato dum amigo enquanto falo. Lisboa : Quimera. 1988
resumo, tabulação e negrito no texto por Geografismos ]






"Évora. A vida citadina processou-se, durante o dia de ontem, com toda a normalidade. Os eborenses acompanharam os acontecimentos através dos noticiários da rádio e da televisão e dos jornais, que se esgotaram, embora com as suas edições aumentadas.

Pelos contactos que tivemos com a população, pudemos verificar que se encontra cônscia do momento histórico que se está a viver. Quando as tropas cercaram o quartel-general da Região Militar, o povo acatou as ordens recebidas, e aplaudiu com vivas e palmas às Forças Armadas.

Ao princípio da noite de ontem, as forças militares tomaram conta dos serviços da DGS e da LP, recolhendo material e ocupando os respectivos edifícios. Estas operações decorreram com toda a facilidade, não obstante, o povo, ao ter-se apercebido do que se passava, acorreu, em grande número, às artérias onde se instalavam aqueles serviços."

[ O Século (27 de Abril de 1974). Tabulação e negrito no texto por Geografismos ]






ABRIL DE 1974 - Memória dos anos setenta:
AGRADECIMENTOS


O Geografismos destaca e agradece duas boas colaborações para os posts do 25 de Abril: Para algumas das imagens do 25 de Abril contamos com a disponibilidade de Victor Valente que prontamente acedeu a que suas fotos aqui fossem postadas; são fotos devidamente referenciadas. Para as cartas sinópticas de Abril de 1974 e coleccção de recortes de imprensa, nacionais e eborenses, contamos com o apoio de Pedro Alves que organizava o debate «Entre Lenine e Trostky», inserido nas comemorações «Memórias dos Anos Setenta» da Livraria Ler Devagar, obtendo-nos uma mão cheia de Boletins Meteorológicos na biblioteca-arquivo do Instituto de Meteorologia.