a praça do giraldo, évora




"Infalivelmente, todas as terças-feiras, quer chovesse quer fizesse sol, a Praça do Giraldo abarrotava de gentio. O café Arcada formigava de bonés e chapéus descaídos para a nuca. Capote, samarra ou pelico e safões pela rijeza do inverno. A singeleza da camisa e colete pela calma do verão.

Era o dia dos negócios da lavoura. A «bolsa informal» do gado, da cortiça, das leguminosas, dos cereais e da palha. Entre cafés e aguardentes concertavam-se negócios, apalavravam-se arrendamentos, compras e vendas de herdades, emprestava-se e pedia-se dinheiro."

In Alentejanando Fevereiro, 2004




Évora cresceu e urbanizou-se. Para mim a Praça do Giraldo são as noites quentes de Verão, as tardes nos telhados do Harmonia com concertos e filmes pela madrugada, o pessoal da Universidade de Évora...

Indo para baixo, no sentido sul, encontramos o departamento de Geologia, para poente e ao fundo da muralha, encontra-se a escola de Santa Clara. Para cima chegamos à Praça do Sertório e ao café Capuccino. Ou, ainda mais para cima, junto à Sé, o mais bonito restaurante-pátio vegetariano do país.





"Évora, conquistada quando D. Afonso Henriqus se firmou na linha do Tejo (1147) e logo perdida, foi recuperada em 1160 pelo audacioso fronteiro Giraldo Sem Pavor, que com o seu bando guerreava por sua conta, às vezes até aliando-se aos reis taifas (um dos quais, farto das suas trapaças, o mandou decapitar) e infundia nos mouros grande medo: «avançava sem ser apercebido na noite chuvosa, escura, tenebrosa e, insensível ao vento e à neve, ia contra as cidades», diz um cronista árabe.

Giraldo entregou-se ao Rei de Portugal, mas, perante o avanço das suas conquistas, a reacção almoada não se fez esperar. Todo o Sul do Tejo se perdeu e o exército mouro, com grandes esforços do Almagrebe (Marrocos), acampou à vista de Lisboa, no alto de Almada: apenas Évora, entregue aos freires de Calatrava, resistiu heroicamente - ilhota cristã no meio da mourisma vigilante e agressiva. Os seus corajosos defensores passaram a ser conhecidos por «freires de Évora», até fixarem o mestrado em Avis."

RIBEIRO, Orlando - Évora. Sítio, origem, evolução e função de uma cidade. In Opúsculos geográficos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994. Vol. 5.



Oitocentos e quarenta e quatro anos depois Évora é um dos locais mais interessantes para viver. Tive a boa sorte de leccionar numa das mais bonitas escolas da cidade, no interior da Évora histórica: Santa Clara, antigo convento fundado no ano de 1452. As imagens em cima são da Praça do Giraldo, em baixo a escola (fachada da igreja de Santa Clara e pátio interior).